Crônica da cidade – Mosqueiro e suas histórias

Crônica da cidade – Mosqueiro e suas histórias
  20 de março de 2019
Coordenação de textos: Antonio Carlos Pimentel / Redação: Sue Anne Calixto / Fotos: Fernando Sette Câmara – Todos os direitos reservados / All rights reserved

Uma ilha, longe cerca de uma hora e meia de Belém, rodeada de praias, comidas gostosas, tranquilidade e histórias. A ilha do Mosqueiro tem carinha de interior com todos os trejeitos de cidade grande. É uma pausa no meio da rotina para poder descansar. É tranquilidade e abrigo, e a quem assim desejar, é também diversão e adrenalina.

Minha família tem uma casa lá desde os meus seis meses de idade. Era o meu cantinho no início. E até hoje, quando a rotina permite, em alguns finais de semana durante o ano, a família se movimenta para lá.

Eu acredito que a magia do local já inicia antes mesmo da travessia na ponte. Existe uma lanchonete ali próximo que traz uma delícia de pão de queijo, que é quase uma parada obrigatória em todas as nossas viagens.

Na verdade, eu preciso confessar que o que mais me encanta em Mosqueiro são as comidas que sei que posso comer lá. Por algum motivo, dificilmente eu como os pratos típicos do Pará por aqui pela cidade, mas em Mosqueiro é sempre a minha tradição. Aguardo ansiosa pela chegada da noite para finalmente poder ir para a vila, já planejando qual será a mistura de sabores que irei experimentar. Mas na realidade, metade do prato já está sempre definido, que é o arroz paraense. Não sei por qual razão, mas para mim, aquelas barraquinhas possuem alguma receita secreta porque eu não consigo gostar desse prato em nenhum outro lugar.

Mas o especial mesmo é a variedade de alimentos que podem ser encontrados no espaço daquela praça. Outra coisa que sempre chama a atenção são as barracas que vendem tapioquinhas. Porém, acredito eu que o encanto maior delas se faz quando se toma o café da manhã lá, ou em um fim do dia, junto ao café da tarde. A variedade de sabores torna uma escolha difícil, mas o segredo talvez seja sempre dar um jeito de chegar ali, para experimentar os mais variados tipos e assim escolher o favorito.

A vila do Mosqueiro não é apenas especial pela sua variedade de comidas. Sempre há diferentes programações para todos que a visitam. Parquinhos de diversão voltados a crianças, com seus escorregas gigantes e pula pula. Há também as lojinhas que vendem infinitas e diferentes coisas, que já são marca registrada da vila. E em algumas ocasiões, o coreto localizado no centro da praça se torna um palco e traz diferentes tipos de apresentações culturais.

Eu e minha família temos a rotina de sempre levar uma esteira, colocamos no chão e levamos algum tipo de jogo para brincarmos. Seja baralho, Uno ou jogo de tabuleiro mesmo.

Me pego falando apenas da comida, mas Mosqueiro vai bem além disso. Existem também diversas praias para todos os tipos de gosto. Quer dizer, tudo é praia mas em Mosqueiro, algumas praias ficam bem lotadas, outras são mais vazias, outras contam com diferentes programações em épocas de pico, outras são perfeitas para os amantes do surf. Cada praia presente na ilha traz a sua própria peculiaridade, o que a torna ainda mais especial e única.

Voltando ao meu assunto favorito, acho praticamente impossível ir à praia e não se deliciar com a isca de peixe. Eu que nem sou tão fã assim, sempre faço questão que esse seja um pedido obrigatório. Isso me lembra também que a praia que mais costumamos frequentar é a do Marahu. No caminho de lá existe um local que vende mini pastelzinhos que também se tornou uma parada obrigatória quando vamos a praia. Minha mãe conta que esse pastel existe desde quando eu era criança, e ela sempre comprou.

Em uma dessas praias também tem uma sorveteria Cairu, que é considerada a melhor sorveteria do Brasil. Como vivemos em um local extremamente quente, tomar sorvete é praticamente uma parada obrigatória. Minha família se constitui em cinco pessoas. “Mestiço, Torta de Cupuaçu, Tapioca, Paraense e Napolitano”. Deixo pra vocês adivinharem de quem é o diferente. Agora imagina, tomar sorvete e ter como vista o sol se pondo na praia.

O que eu acho interessante é perceber a evolução da ilha. Seja pelo aumento no número de visitantes ou apenas por enxergar como as coisas vão mudando. Um supermercado que inicialmente era uma portinha, hoje está enorme, e vende de tudo um pouco. A frente da minha casa que antes era uma espécie de “floresta”, hoje traz um conjunto residencial. E assim vai sendo.

Como eu disse, Mosqueiro também é feito de histórias. Eu lembro de muitas viagens em família, com primos, avós, amigos. Lembro da diversão e das histórias que a nossa avó contava sobre as famosas visagens e consequentemente os medos na hora de dormir. Dos banhos na piscina do condomínio ou das partidas na quadra de areia. Das idas à praia onde fui mudando da pessoa que amava mergulhar, para aquela que gosta de caminhar a praia inteira, depois para a que prefere levar um livro para ler, e por fim a que já prefere nem ir mais.

A rotina hoje não permite que a casa que temos lá seja visitada com tanta frequência. Algumas vezes, só quem vai é meu pai e minha mãe. E ela sempre se pergunta porque isso acontece. Mas como eu disse, é uma questão de evolução, ou simplesmente crescer.

Mosqueiro sempre me trará lembranças boas. E é bom caminhar com a certeza de que é só seguir por este caminho de uma hora e meia novamente, que poderei construir novas e melhores histórias.