Os Brinquedos de Miriti

Os Brinquedos de Miriti
  18 de julho de 2017
Por Amadeu Frade / Fotos: Fernando Sette Câmara – Todos os direitos reservados / All rights reserved

Círio de Nazaré - Belém

No Círio de Nazaré eles tomam conta da cidade. São barcos, carros, aviões, cobras que se arrastam, bonecos que se movimentam, de um colorido que enche os olhos tanto de crianças como de adultos. São os brinquedos de miriti.

O miriti é um material leve retirado de uma palmeira amazônica que permite ser cortado, moldado e colado, da mesma maneira que o isopor, por isso alguns o chamam de isopor amazônico.

Não importa a idade, a diversão é certa, seja ao se aventurar no corte e montagem dos seus brinquedos, seja apenas usando o brinquedo já montado vendido nas esquinas de Belém.

No término de sua expedição não deixe de levar o seu.

Descobri o miriti quando criança.

Estava na casa de minha vó e via os empregados cortando aquela folha de palmeira enorme que chamavam de “miritizeiro” ou miriti. Com a imaginação típica de uma criança da cidade cheguei perto de um dos empregados e perguntei se era para fazer alguma cabana. Rindo ele respondeu: “ Com isso fazemos de tudo ! Cobertura de casa, tala para tecer paneros e até brinquedos!”

Eu, um muleque da cidade, não acreditei e ri. O empregado sentindo-se desafiado me chamou para perto. Rapidamente com um facão tirou as folhas e com uma faca menor, cortou-lhe a casca retirando várias talas que seriam usadas para tecer os paneros que usávamos para carregar açaí, cacau e tudo mais que precisávamos.

Restou aquilo que parecia um pequeno caule, que mais lembrava um cano grosso de água.

Aí sentamos na ponte de madeira que circundava a casa grande, que era usada quando o nível do rio subia para nos deslocarmos pelo terreno alagado. Sentados ele começou o seu artesanato, um pouco desajeito me lembro, pois ele não era um artesão nato e sim um trabalhador mais acostumado a lida diária com o manuseio de cargas pesadas do que com o artesanato para alegrar um muleque da cidade.

Com poucos movimentos ele já havia feito uma pequena canoa que, pasmem, boiava com a perfeição de um engenheiro naval !

Eu claro fiquei espantado! Mais uma lição ! Pedi para fazer o meu. Macia como um isopor, cortei, cavei, cortei de novo, e consegui aquilo que imaginava ser uma canoa. Para minha decepção não flutuava como aquele feito pelo empregado, que naquele momento já se transformara em professor.

Mas havia mais. O empregado-professor continuou a me explicar as outras utilidades do miriti: frutos para doces e mingau, tronco para “pontes”… mas eu só queria saber dos brinquedos de miriti.