Crônica da cidade – A expressão mais pai d’égua

Crônica da cidade – A expressão mais pai d’égua
  23 de janeiro de 2019
Coordenação de textos: Antonio Carlos Pimentel / Redação: Sue Anne Calixto / Fotos: Fernando Sette Câmara – Todos os direitos reservados / All rights reserved

O paraense usa uma expressão que para o resto do Brasil pode ser considerada xingamento. Por aqui, é natural que essa palavra seja dita e escutada inúmeras vezes, para mostrar diferentes sentimentos e emoções.

“Égua” é a fêmea do cavalo, mas em Belém pode significar qualquer outra coisa. É como se fosse a vírgula do paraense, sabe. É tão natural que parece que antes dos bebês paraenses falarem “mamãe” eles já soltam um “égua”, pra mostrar de onde vêm.

Mas vamos lá. Como dito lá em cima, a expressão pode significar qualquer coisa…

Quando o paraense acaba de subir no ônibus e percebe que já está suando. “Égua do calor, mano!”, como uma reclamação. E quando o motorista do ônibus parece que tá em uma perseguição policial: “Égua, motora, dá uma diminuída aí”, como uma advertência.

Digamos que o paraense está andando no shopping e passa em uma loja onde tem uma roupa que super te interessa. “Égua da roupa linda!”, aí um tom de surpresa.

Agora digamos que você entra na loja para verificar a roupa e de repente…“Égua da roupa cara!”, aí está, como revolta.

Outra situação, quando o paraense está indo em direção ao carro e percebe que uma manga caiu no para-brisa. “Égua, não acredito!”, como um sentimento de raiva.

E quando o paraense está andando na rua e vê dois caras em uma moto, mas por sorte eles passam direto. “Égua do susto que eu levei!”. Aqui o sentimento é de espanto, e um pouquinho de alívio porque né…

E quando duas amigas se encontram na rua e uma solta “Égua, mana! Tenho um babado pra te contar!”. Não é um xingamento para amiga, pode ser uma expressão de ansiedade ou um leve suspense. E quando a amiga conta que o babado foi que ela voltou com o ex novamente a frase para expressar a decepção é “Égua, não acredito que tu fez isso!”

Ah, a palavra também pode ser utilizada para expressar felicidade. Quando o paraense chega em casa e tem açaí lhe esperando: “Égua, isso sim é ser bem recebido!”. E finalmente, ao terminar de tomar o açaí ele ainda solta um “Égua do açaí pai d’égua!”.

Também tem aquela situação de quando o paraense precisa colocar a roupa no varal e de repente a chuva se forma: “Égua, lá vem o toró”, expressando descontentamento e até uma tristeza.

Vale também pra fazer declaração: “Égua, sou doido por ti!”.

Vale pra reclamar: “Égua, mano, olha por onde tu anda”.

Vale pra contar uma novidade: “Égua, nem te conto”.

Vale pra terminar uma relação: “Égua, não dá mais. Cansei”.

Vale pra comentar sobre algo muito bom: “Égua, essa série é muito boa”.

Como eu disse, vale mesmo pra qualquer situação.

Mas o que quero concluir mesmo é que “Égua da expressão pai d”égua!”. Dá um orgulho danado de viver aqui.