Três da tarde e no céu um solzão, parece até que é meio-dia. Tem gente que anda por cinco minutos e já derreteu, compra logo uma água pra hidratar. As mulheres sofrem com a maquiagem borrada, porque não adianta, não tem produto que resista ao calor dessa cidade. Os sortudos que estão em casa ligam um ventilador pra cada lado do corpo e o do teto só pra ter certeza, e olha que não faz nem 15 minutos que saíram do terceiro banho no dia. O pessoal do escritório diminui a temperatura do ar-condicionado. Os feirantes estão ali, se abanando com uma folha de papel solta. O lugar mais desejado no ônibus é a tal da janela, e olha que também nem faz tanta diferença assim.
Os paraenses reclamam “Égua do calor!” e pedem, afinal: “Pois tomara que chova pra dar uma esfriada”.
E como num passe de mágica, as três da tarde se transformam e viram noite. O céu fica daquele tom de cinza escuro de quem diz “se preparem que hoje tem toró”. Inicia uma ventania meio fora do comum. O barulho de trovão já chama a atenção, avisando que ela está pra chegar.
E cai a chuva que todos desejavam.
Então, de repente, os motoristas nem sabem mais como dirigir direito. Os canais da cidade transbordam, deixando as ruas tomada por água, o lixo entope os bueiros, impedindo a água de descer. Quem leva trinta minutos pra chegar em casa, agora leva duas horas. E coitado de quem tá no ônibus, que agora precisa fechar a janela pra que a chuva não entre. Parece que nem adianta procurar outros caminhos pra seguir porque tá tudo parado, literalmente, sem exagero mesmo. E tu vês até o pessoal que desistiu das quatro rodas pra ir a pé, porque dessa forma dá pra chegar mais rápido. Todo mundo postando foto no “stories” do Instagram pra saber quem foi que demorou mais tempo pra chegar em casa.
Como assim? A chuva não deveria ser boa?
“Oh, Belém, por que choveu?”
No dia seguinte tudo volta à normalidade, todo mundo vai trabalhar. Então dá as três da tarde e… “Égua do calor!”